Em junho deste ano, publicamos uma pesquisa chamada "Como arquitetos e profissionais da construção especificam materiais e produtos?". O objetivo era entender melhor os comportamentos e necessidades dos arquitetos durante a etapa de especificação no processo de projeto.
O relatório a seguir é dividido em cinco partes:
- Sumário
- Quem participou da pesquisa
- Como arquitetos e designers interagem com produtos e materiais em seu processo criativo?
- Especificação de materiais e produtos nas diferentes fases da construção
- Conclusões
Sumário
A maioria dos profissionais de arquitetura que estão projetando e desenvolvendo projetos também são os principais tomadores de decisão na escolha e especificação de materiais e produtos para edificações e interiores.
Embora a relação dos arquitetos com os materiais se torne mais relevantes durante a etapa de construção; as etapas iniciais de projeto exigem a pesquisa de material referencial e as consultas técnicas que acontecem no escritório, a partir do que está disponível online.
A relação entre os profissionais da arquitetura e do design é uma fonte vital de informações na escolha dos melhores materiais e produtos para trabalhar. As recomendações de colegas profissionais e as relações construídas a partir de experiências anteriores entre profissionais de arquitetura e fabricantes têm um papel importante neste estágio.
O fortalecimento dos canais digitais, como blogs e newsletters do setor, juntamente com o aumento das compras online, sugere uma nova relação híbrida entre arquitetos e materiais em que reuniões presenciais com representantes e visitas ao showroom podem ser combinadas com compras e pesquisas online para otimizar tempo e recursos.
1. Quem participou da pesquisa
A pesquisa ficou no ar durante três semanas em nossos sites em inglês, espanhol e português, e contou com a participação de 585 pessoas de 83 países. Entre os países com maior número de participantes estão Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Chile, México e Brasil. Mais da metade dos entrevistados eram arquitetos (70%) com idades entre 25 e 44 anos (60%), trabalhando como autônomos (35%) ou em pequenos escritórios de até 5 funcionários (32%).
Apenas 14% dos pesquisados ocupavam um cargo específico em seu escritório exclusivamente dedicado à especificação de materiais e produtos. Por outro lado, 96% afirmaram que a especificação faz parte de seu dia a dia. Esta esmagadora maioria nos leva à conclusão de que quase todos os arquitetos ou designers envolvidos no desenvolvimento de projetos devem, em um momento ou outro, buscar produtos e materiais para seus projetos.
2. Como arquitetos e designers interagem com produtos e materiais em seu processo criativo?
Está claro que arquitetos e designers têm um relacionamento próximo com os materiais em todo o seu processo criativo – da inspiração e pesquisa à compra e implementação. Mas quais são os principais canais e fontes que estes profissionais preferem usar ao buscar informações concisas ao longo das diferentes etapas do projeto?
Durante a fase inicial – o início do processo criativo – a maioria dos arquitetos e designers busca inspiração e referências sobre materiais e produtos em sites de arquitetura, como o ArchDaily (84%), e por meio de mecanismos de busca como o Google (68%). A terceira fonte mais comum de inspiração foram revistas especializadas (59%), seguida de perto pelo Pinterest (58%).
Embora o espaço digital seja amplamente utilizado por arquitetos atualmente, a arquitetura e o design de interiores continuam sendo disciplinas desenvolvidas no mundo físico. Isso explica porque alguns profissionais mencionaram as visitas a projetos locais como um exercício importante na busca de inspiração por materiais, permitindo-lhes ver pessoalmente como estes foram empregados em obras já construídas.
Durante a fase de pesquisa, em que são coletados dados técnicos sobre os materiais e produtos, os profissionais esperam encontrar essas informações diretamente nos sites dos fabricantes (89%). Uma porcentagem menor também mencionou visitas a showrooms (65%) e catálogos online (60%).
Na fase final, onde o profissional deve escolher qual empresa ou fabricante fornecerá os materiais e produtos para o projeto, o fator mais importante na tomada de decisão foi a possibilidade de ver o produto aplicado com sucesso em outros projetos (91%). Esta etapa também incluiu o peso das recomendações entre colegas (70%) e experiências anteriores entre o arquiteto e o fabricante, dada a importância da construção de uma boa relação com os fornecedores (66%).
Nas etapas de Inspiração, Pesquisa e Decisão, o comportamento dos pesquisados não apresentou variações significativas por país. Começamos a ver diferenças emergentes entre os mercados no que diz respeito às maneiras como arquitetos e profissionais de design se mantêm atualizados sobre produtos e materiais.
As respostas coletadas por meio do ArchDaily.com mostram como as visitas de representantes dos fabricantes aos escritórios de arquitetura são atualmente a principal forma de arquitetos e designers se manterem atualizados sobre novos materiais e produtos (78%). Fica claro que nos Estados Unidos esta é uma forma comum de conduzir negócios; no entanto, essas práticas podem mudar devido ao aumento de profissionais trabalhando em casa, aliado a novas tendências no consumo online.
Por outro lado, blogs de arquitetura e construção são as principais fontes para profissionais latino-americanos (71%) se manterem atualizados. Em ambos os mercados, no entanto, a segunda fonte mais popular são as feiras de arquitetura e construção.
3. Especificação de materiais e produtos nas diferentes fases da construção
Todo projeto arquitetônico passa pelas mesmas etapas: 1) Estrutura e Fundação, 2) Envelope e Revestimentos, 3) Acabamentos e Detalhes e, finalmente, 4) Projeto de Interiores. Visto que cada etapa requer diferentes tipos de produtos e materiais, nos perguntamos se também existem diferentes formas de especificar em cada uma dessas etapas.
A primeira coisa que nos chamou a atenção foi que durante a etapa de Estrutura e Fundação, para quase metade dos escritórios, a especificação costuma ser terceirizada para empresas especializadas. Os dois estágios em que as especificações são realizadas mais internamente são Envelope e Revestimentos (89%) e Acabamentos e Detalhes (93%)
Quando se trata de especificar produtos e materiais para Projeto de Interiores, também podemos ver as diferenças entre os mercados. O Brasil desponta como o mercado que mais realiza internamente esse tipo de especificação (93%), enquanto no restante da América Latina a cifra cai para 78%. Nos demais mercados, o percentual é de 82%.
Em geral, descobrimos que arquitetos e designers especificam materiais e produtos de maneira relativamente uniforme em cada estágio de construção. Seja algum material estrutural específico ou um tipo de cerâmica de banheiro, os processos de seleção e compra parecem ser os mesmos. Em qualquer destes casos, os profissionais encarregados de especificar considerarão, em primeiro lugar, a disponibilidade de amostras físicas, em seguida, o acesso às fichas técnicas e, em terceiro lugar, a inclusão de fotografias de produtos de alta qualidade ou do produto aplicado em outros projetos. Podemos ver um aumento na relevância das informações técnicas disponíveis digitalmente e imagens de alta qualidade de produtos e materiais em uso. Isso pode significar que esse tipo de recurso virá a se tornar tão importante quanto as amostras físicas, devido à mudança que estamos vendo nas esferas digital e física.
Na hora da compra, a maioria dos profissionais prefere a qualidade ao preço, seguida dos aspectos estéticos do produto e, por último, produtos produzidos ou distribuídos localmente.
Quanto aos profissionais responsáveis pela compra de produtos e materiais para seus projetos, os resultados da pesquisa indicam que as principais opções tendem a ser: contato direto com os representantes dos fabricantes e visitas aos showrooms dos fornecedores, seguido de compras online. Nossa previsão é que este último aumente consideravelmente nos próximos anos, passando a uma nova forma híbrida de consumo em que reuniões presenciais e visitas ao showroom podem ser combinadas com compras online para otimizar tempo e recursos.
Por fim, constatamos também que 15% dos arquitetos e designers não realizam a compra dos materiais, pois essa tarefa é delegada a empresas terceirizadas, que geralmente são construtoras.
4. Conclusões
A maioria dos profissionais de arquitetura que trabalham com projetos também são os principais tomadores de decisão na escolha e especificação de materiais e produtos – seja para edificações ou interiores.
Embora a relação dos arquitetos com a escolha dos materiais se torne mais relevante durante a fase de construção; as etapas iniciais de projeto exigem pesquisa de material referencial e consultas técnicas que acontecem no escritório, a partir de dados disponíveis online. Arquitetos e designers encontram inspiração em sites especializados e procuram material técnico em sites de fabricantes e distribuidores. Neste último caso, é importante notar que, embora os arquitetos utilizem esses sites para encontrar informações detalhadas sobre os produtos, às vezes não conseguem encontrar as informações exatas que procuram, pois nem sempre esses sites são construídos para abrigar esse tipo de material técnico.
A relação entre os profissionais da arquitetura e do design é uma fonte vital de informações na escolha dos melhores materiais e produtos para trabalhar. Ver as experiências anteriores – seja de profissionais independentes ou escritórios de arquitetura – e contar com recomendações de colegas de profissão são fundamentais para decidir quais materiais escolher. É durante essa fase que as marcas associadas a projetos já construídos podem ser lembradas pelos arquitetos. Se for estabelecida uma boa relação de trabalho entre o fabricante e o projetista, em que aquele fornece informações relevantes e oportunas que contribuem para o sucesso do projeto, é mais provável que o arquiteto retorne àquele fabricante antes de buscar outras alternativas.
Arquitetos e designers devem se manter continuamente atualizados sobre novos materiais, inovações de produtos e novas tecnologias. Por se tratar de uma indústria tão ligada ao meio ambiente físico e construído, compreende-se a importância de comparecer a feiras de negócios e encontros presenciais. No entanto, estamos vendo o fortalecimento dos canais digitais, como blogs e newsletters especializadas, que consistentemente disponibilizam informações aos arquitetos e designers.
Em relação à decisão final e à compra, parece bastante lógico que arquitetos e designers se interessem em ver amostras físicas. Dito isso, há uma mudança global incontestável em direção às vendas online, o que pode causar problemas com a disponibilidade de amostras. Compras online de materiais e produtos arquitetônicos é mais um passo em direção à digitalização de nossa indústria, que poderia se beneficiar da disponibilidade imediata de informações técnicas dos fabricantes. Isso inclui, entre outras coisas, a capacidade de mostrar a aparência final do produto aplicado por meio de fotografia de alta qualidade. Reuniões pessoais com representantes e visitas aos showrooms são fundamentais no setor, mas podem ser combinadas a compras online para otimizar tempo e recursos. Nossa previsão é que o percentual de compras de produtos online aumentará consideravelmente nos próximos anos.